Helena decidiu tomar um chá e pôs a chaleira ao lume. Não havia clientes, porque não fazer uma pausa enquanto havia tempo?
Limpa os tapetes e o interior do novo Fiat Punto. Como é que ela conseguiu deixar o carro tão sujo! E dizem que os homens cuidam dos seus carros. É suposto lambê-los e limpá-los. Há exceções à regra. As mulheres com cães também vêm, o carro é uma boneca. Tudo limpinho. Só têm de polir e lavar os tapetes. Às vezes limpam os vidros. São os seus clientes habituais. Cinzeiro vazio, capas para os bancos. É um prazer.
Muitos clientes da lavagem de carros pediam frequentemente a Helena para lhes limpar o carro. Agradeciam-lhe com gorjetas extra. E os empregados tinham inveja, confiando-lhe os carros mais sujos, dos quais nem sequer se queriam aproximar. Gostavam mais da lavagem exterior. O mais importante é não trabalhar com as mãos.
Só Helena não se importava. Aceitava grandes encomendas, porque precisava de dinheiro. O marido estava em casa, não tinha trabalho, por isso ela tinha de trabalhar para todos. Alguém tem de alimentar a família e tomar conta das crianças. Ela estava cansada, mas os rendimentos são constantes. O marido quer trabalhar apenas na sua especialidade. Afinal, ele tem uma formação superior. Não pode ir trabalhar como empregado de limpeza.
Decidiu ficar em casa. Irritado, nervoso, sempre a queixar-se, zangado. Nem sequer sorri. Ela trabalha para ele. Faz as compras, cozinha, limpa. E o marido só sabe aquecer a sua própria comida. Nada mais.
Provavelmente, ele não se sente culpado pelo facto da família não ser sustentada por ele. Helena tem de girar como um esquilo numa roda. Por isso, pode dizer-se que no trabalho ela descansa. No quarto, estica as pernas e pensa no seu destino.
Os rapazes estavam quase todos a fumar no banco, por isso ela estava sozinha. A maior parte dos clientes vem à noite. Não há muitos clientes durante o dia. Os patrões vêm à tarde, contam a caixa e bebem chá. Os homens bajulam a proprietária, fazem uma aparição, esfregam o chão. Em suma, toda a gente está ocupada. A Helena é a responsável pela contabilidade.
O patrão nomeou-a imediatamente superior. Ele estava contente por ter uma empregada tão responsável a trabalhar para ele. Ela era diligente, os seus clientes apreciavam-na, ela era delegada noutras pessoas e o boca-a-boca funcionava.
Helena é uma empregada valiosa. Foi graças a ela que o diretor pensou em expandir a empresa. A Helena teve a ideia. Também se pode lavar tapetes. Muitas lavagens de carros têm esse serviço. Além disso, há um terreno vazio aqui ao lado. Podíamos limpá-lo e usá-lo. Ele vai trazer peneiras, nivelar o terreno, dar-lhe um bom aspeto.
O diretor já o explorou. Vai pagar-se a si próprio num instante. Com a Helena no comando, tudo se vai compor. Ela vai ser capaz de organizar o negócio. E vai atrair clientes para os serviços certos. As senhoras estão a fazer fila para lavar os carros dela. Porque não lavar-lhes os tapetes? Toda a gente sabe como ela é boa no seu trabalho.
Ela tem o aspeto que a natureza lhe deu. Cabelo bonito, ondulado, bem arranjado. A sua pele é macia, bem cuidada, o seu rosto é limpo. Trabalhando num ambiente húmido, ela fez um bom trabalho. Mas não teve tempo para cuidar muito de si. Devia ter sido uma apresentadora de televisão e não uma lavadora de carros sujos.
Enquanto discutiam negócios, o patrão admirava a beleza da empregada. Ela viu a atenção dele, ficou embaraçada, corou, mas continuou a falar.
Helena orgulhava-se dos seus filhos. Falava deles com ternura. Cresceram de forma económica. Mas sobre o marido mantinha-se em silêncio. Ele senta-se em casa e não quer saber de nada. Embora o patrão lhe tenha oferecido um emprego na lavagem de carros. Há trabalho suficiente. Só que não é para ele – ele precisa de um emprego bem remunerado. Considera-se um trabalhador qualificado. Mas a sua mulher escondeu o diploma de contabilista, pegou num trapo nos dentes e lava carros. Os filhos tinham um ano e meio, e mesmo quando ela estava de licença de maternidade, trabalhava em part-time.
Não a contratavam na sua profissão sem experiência. Mas ela conhecia bem o seu negócio. Ela própria tratava de toda a papelada. Apresentava relatórios às Finanças. Tinha calculado todos os custos de expansão do negócio. Tinha um plano. Podia ter sido contabilista. Mas o patrão não a deixava ir.
Pagavam-lhe um bom salário, até lhe davam um bónus. Tudo para manter a mulher. Toda a gente via como a sua vida era difícil. O patrão não gostava tanto de ninguém como de Helena. A família dele morreu há muitos anos. Desde então, ele vive sozinho. Nem sequer namora com ninguém. Gere um negócio. Costumava sair com os seus amigos. Mas eles são todos da família, e ele está aborrecido. Então ele começou a olhar para a Helena. Ela estava a mostrar-se indisponível. O facto de a mulher ser casada envergonhava o patrão. Por isso, ele tinha medo de a cortejar abertamente.
Mas o destino foi diferente. Ela ajudou o homem. Helena torceu a perna, ele levou-a para o hospital, e lá tapou a fissura, pôs um molde de gesso. O homem levava Helena para todo o lado. Levou-a para casa. Começaram a subir as escadas e, no apartamento, depararam-se com uma cena muda: o marido de Helena nos braços da amante do vizinho. Ficaram ambos estupefactos. O patrão deu meia volta e regressou, carregando Helena com cuidado. Ela estava a chorar.
Não te preocupes, agora as tuas filhas vêm da escola e nós vamos para minha casa. Vai correr tudo bem.