– Catarina, temos que encontrar uma saída. Se o meu filho não se tornar meu dador, eu vou morrer. Preciso de um parente de sangue, esta é a minha última oportunidade”, chorou Joaquim à porta do apartamento da ex-mulher.
– Um filho? Não disseste que eu tinha um filho? Atiraram-me para a rua com um bebé. Não fazes ideia do que tive de passar para o pôr de pé. E agora vem correndo? – Catarina não conseguia se acalmar.
– A mãe me obrigou. Perdoa o idiota!
Depois dessa conversa, Catarina começou a lembrar-se de como tudo começou. Há 20 anos, sentia-se a mulher mais feliz do mundo. Estava casada com um homem maravilhoso e tinha um filho há muito esperado no seu coração. A sogra não gostava dela, mas a mulher tinha a certeza de que, após o nascimento do neto, o seu coração iria descongelar.
No entanto, na vida, tudo aconteceu de forma diferente. Assim que Catarina teve alta da maternidade com o seu filho, a sogra chamou Joaquim à parte e sussurrou-lhe
– Este não é o teu filho! Manda-a embora! Juro-te que foi ela que o gerou.
– O que é que está a dizer, mãe, não se pode saber pelo bebé?
– Tu és cego, filho. Vais alimentar o filho de outra pessoa toda a tua vida e a tua mulher gulen vai dar-te chifres. Depois será tarde demais, digo-te eu. Diz a verdade às pessoas e despede-te dela.
– Para onde é que eles vão?
– Quem quer que tenha dado à luz o filho dela, que vá ter com ele. Não te preocupes com a pensão de alimentos, eu vou ao departamento de contabilidade e faço com que eles reduzam oficialmente o teu salário para o salário mínimo. Ele vai receber três cêntimos! E tu e eu viveremos juntos. Foi tão bom!
Catarina lembra-se desse dia em pormenor. Exausta, com um bebé nos braços, saiu para a rua e chorou. Simplesmente não tinha para onde ir e não queria justificar a sua inocência. Sogra, se algo está na sua mente, não pode ser mudado. Joaquim tinha traído a sua família.
Voltar para casa dos pais não era uma opção. Eles viviam no campo, um incidente destes seria uma vergonha para toda a família. Não se pode provar a ninguém que o marido a expulsou de casa sem motivo. Se não fossem as raparigas do dormitório de estudantes, ela teria ido para o mundo. Elas ajudaram-na, resolveram todos os problemas com a direção e cuidaram do seu filho pequeno.
Em breve, Catarina conseguiu arranjar emprego numa loja como assistente de loja. Estava a sair-se tão bem que, em poucos anos, alugou a loja e geriu o negócio sozinha, e depois voltou a comprá-la. Sim, passou por momentos difíceis, mas queria muito que o seu filho tivesse uma vida decente.
Em breve, Catarina poupou para comprar o seu próprio apartamento. Gradualmente, expandiu o seu negócio e não baixou os braços. O filho não disse nada de mal sobre o pai, apenas afirmou que não concordavam em termos de carácter. Durante todos estes anos, Joaquim nem sequer apareceu no horizonte, pelo que o rapaz se habituou a viver sem o pai. Formou-se na escola e entrou numa universidade de prestígio. Depois, aparece-lhe à porta – o pai, que pede para o salvar da morte.
Quando Catarina contou tudo ao filho, ele disse-lhe:
– Mãe, ele fez mesmo uma coisa má. Eu sabia disso quando era miúdo, os teus amigos contaram-me. Mas tu não és como ele, nunca deixas as pessoas em apuros. Ele é um ser humano e tu não o vais deixar morrer. Não é? Vamos para o hospital, é o que temos de fazer.
Após a operação, Joaquim sentiu-se imediatamente melhor. O filho acabou por ser o dador perfeito para ele, pelo que recuperou rapidamente. E o mais importante é que Luís é uma cópia do pai. A única coisa que herdou da mãe foi um olhar bondoso e altruísta.